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sexta-feira, 8 de abril de 2011

♫ ESPECIAL 2: Entrevista com Ney Neto ♫



Olá Amigos, Colaboradores e Visitantes!!!

Vocês devem está achando estranho eu está postando seguidamente não? Devido a minha nada mole rotina, me limito a postar mensalmente, mas acontece que essa semana está sendo muito badalada hehe após a fantástica entrevista com Jim Stinnett, hoje teremos a honra de ler na integra a entrevista que fiz com o baixista brasileiro Ney Neto!

Ney Neto é um baixista brasileiro descendente de gregos (daí você já tem noção da musicalidade que ele traz nas veias), reconhecido internacionalmente, com gravações muito bem conceituadas pela crítica especializada e com um talento inconfundível.

Mas, além de todos esse adjetivos como músico, Ney Neto surpreende por seu jeito “parceiro” de ser. Isso mesmo! P-A-RC-E-I-R-O ! Ney Neto é uma pessoa altamente educada, prestativa e cordial. Atendeu o meu pedido de imediato. Ele também é muito humilde, tanto como personalidade quanto profissional e músico. Sem meios termos, falou abertamente daquilo que ele realmente é, sem se preocupar com rótulos ou titulações. Enfatizou a importância da humildade na profissão de músico e mostrou ser alguém sempre com a mente aberta para as novas nuances que surgem no cenário musical. Sem contar, que ele é um cara bem humorado, engraçado e divertido, e adianto logo, vou aproveitar alguns pensamentos dele para desenvolver artigos para o blog! Bom, agora abaixo, acompanhe a entrevista com Sir Ney Neto!!

Legendas: RR (Roberto Reis) NN (Ney Neto)


RR: Qual seu nome completo?


NN: Ai ai ai! Começamos com essa pergunta mesmo? rs

Bom, então vamos lá, vou revelar meu segredo para o Falandubaixo.

Sou descendente de gregos, meu nome completo é Joveneis Oscalices Neto. “Ney” foi um apelido natural, por ser mais fácil do que Joveneis.

É o apelido do meu pai também, que tem o mesmo nome que eu.

Por isso, Ney Neto. 



RR: Como, quando e com que idade começou sua carreira na música?


NN: Meu primo Thiago Martins tocava guitarra e violão, tocava covers de Metallica, Iron Maiden, Legião Urbana, Soul Asylum, Guns and Roses, Jimmy Hendrix, só rock n’ roll. Comecei aprender a tocar com ele, no começo dos anos 90. Aí, ele começou a compor umas músicas e quis formar uma banda chamada Black Pixies. A vaga que tinha era a de baixista, graças a Deus!


RR: Qual foi o primeiro instrumento que aprendeu?


NN: Comecei a arranhar o violão ainda muito novo, com 11 ou 12 anos, mas nunca levei esse instrumento muito a sério. Cheguei a gravar alguns discos de amigos tocando violão, mas na verdade o único instrumento que aprendi a tocar mesmo foi o baixo. O baixo é meu único instrumento. Até hoje apanho do violão, porque minha filha e minha esposa gostam que eu toque violão em casa, mas não estudo o instrumento.


RR: Por que decidiu ser baixista?


NN: Era a vaga que tinha na banda! Depois tive a sorte de ter uns três bons baixistas morando no meu bairro. Lembro dos primeiros slaps que eu aprendi a tocar, com um desses caras, chamado Mauricio Bittencourt!

Eu fiquei maluco com aquela sonoridade nova.

Eu morava no bairro do Tiguez, o luthier, e passava as tardes inteiras na oficina dele tocando e vendo os caras tocarem. Por ali passavam grandes músicos, e eu aprendia um pouco com todos.


RR: Quais são seus Bass Heros?


NN: O Jaco explodiu minha cabeça quando comecei a ouvir jazz, eu cheguei a chorar ouvindo o Jaco.

Mas muito antes disso, por volta de 1995 eu conheci o trabalho do Pixinga e foi ali que eu pensei: Preciso estudar esse negócio direito.

Eu já tocava na noite naquela época, apesar de bem jovem, mas quando vi o Pixinga foi como se eu conhecesse outro instrumento, porque até então eu nunca tinha pensado no baixo como instrumento solo.

Eu considero o Wake-up, do Celso, um dos melhores discos de contrabaixo da história, hoje tenho a felicidade de tocar ao lado do Pixinga, uma honra pra mim.

Teve também o Arthur Maia, que na mesma época lançou o disco Sonora. Como eu ouvia bastante o Gil e o Djavan, com quem o Arthur tocou na época do disco Malásia eu poderia dizer que o Arthur influenciou muito minha forma de pensar na condução do baixo.

Outro bass hero curiosamente é um cara que tem a mesma idade que eu. Sempre fui fã do trabalho dele e acabamos nos tornando grandes amigos e parceiros. Temos música escrita, gravada juntos, livros publicados e muitos projetos: Thiago Espírito Santo. Esse cara é pra mim um dos maiores talentos do contrabaixo mundial, tem uma técnica estarrecedora, muito bom gosto e um ouvido apuradíssimo.

O Thiago é um gênio.

Bom, além desses caras tem o Jeff Andrews, que não é todo mundo que conhece, mas que é um músico maravilhoso e tocou com Dave Weckl, Mike Stern e era baixista do Vital Information. Eu tive a honra de gravar junto com ele também. E pra fechar a lista tem dois caras que me fascinaram com a linguagem do baixo de seis cordas: Nico e John Patittucci.

Pessoalmente eu nunca ouvi muito o Miller, nem o Wooten, mas acho os caras fantásticos.


RR: Qual baixista mais influenciou sua maneira de tocar e enxergar a música?


NN: Na condução tem o Verdine White, do Earth Wind and Fire. Eu toquei muitos anos em bandas de baile, e curto muito o estilo do Verdine de groovar. Tem o Arthur também com grooves certeiros.

Acho o Marcelo Mariano o groove perfeito, consciente, maduro... aprendi muito ouvindo as gravações dele.

No slap tudo que sei fazer é “emprestado” do Pixinga. Eu nunca estudei as técnicas do Miller, Mark King nem do Wooten e não sei tocar double thumb. Tudo o que sei fazer é usar o efeito percussivo e hammer-nos e pull-offs que aprendi ouvindo e vendo o Pixinga. 100%!

O slap que eu gosto não é o mais técnico, curto o aquele que você ouve e pensa: “caramba, que hora imprevisível pra colocar uma nota!!! Que suingue!!!”

Já como solista eu adoro o Nico, Patittucci, Jaco, Thiago, mas esses caras estão num nível sobre-humano! Não consigo tocar como eles, então acho que meus solos se aproximam mais da linguagem do Jeff Andrews, com divisões mais baseadas em colcheias, frases típicas de be-bop, com arpximações cromáticas, notas de passagem. Não me considero um baixista virtuoso..


RR: Se não fosse baixista, que instrumento tocaria?


NN: Clarinete. Tentei aprender, desisti! Não tinha tempo pra me dedicar, acho até que eu dei minha clarineta de presente. Acho a sonoridade linda, especialmente as notas graves. Um dia gostaria de gravar um disco de baixo e clarinete.


RR: Se não fosse músico, qual seria sua profissão?


Produtor musical, hahaha... Adoro a produção executiva, ou então

produtor de shows, cuidar da logística toda.

Já fiz isso algumas vezes, mas gostaria de me aprofundar e conhecer mais sobre o tema. 



RR: Qual método não pode faltar na estante de um baixista?


NN: Difícil, são vários.

Mas acho que vou aproveitar essa pergunta pra deixar uma dica: músico profissional TEM que saber ler. Não entendo músicos talentosos que investem 5 horas por dia pra ficarem mais rápidos e virtuosos e não aprendem a ler uma partitura.

A leitura musical é uma linguagem universal. Eu sou grato a Deus por ter conseguido viajar ao redor do mundo tocando baixo, sei que nem todo mundo consegue realizar esse sonho, sou um privilegiado, mas eu relacionaria essa façanha ao fato de saber ler música.

Muitos trabalhos que fiz não seriam possíveis se eu não lesse música.

Então eu diria que os livros indispensáveis são a série Reading Bass clef, do Jim Stinnett, que pode ser encontrado no site www.stinnetmusic.com

É o melhor método que existe para leitura em clave de Fá.


RR: Qual é o segredo para ser um bom baixista?


NN: Trabalho organizado, focado e sério. Músico bom acorda cedo, caras de sucesso, além de tocar, fazem uma boa gestão de sua carreira.

O show pode até rolar à noite, mas os contratos são assinados de dia, em horário comercial. Conheci grandes instrumentistas que não trabalhavam quase nada, porque não estavam disponíveis no horário em que as coisas estão acontecendo. Ser músico é muito mais do que ser somente bom instrumentista. Quando você é músico, você é uma empresa.

Não adianta ter um bom produto e não ter uma boa gestão. Empresas assim quebram e param no meio do caminho.

Desculpe se eu ofender alguém com essas palavras, mas eu acho que existe uma hiper-valorização do virtuosismo, do “ser-solista”.

Baixo sem groove não vale de nada. Baixo é groove, pode ver que todos os bons solistas groovam muito também. Se você for ouvir o disco do George Benson chamado Songs and Stories vai encontrar um Marcus Miller que talvez nem reconheça, só groovando. Essa é a essência do baixo, o groove! Gravo muito porque tenho facilidade em construir grooves e levadas que funcionem em um arranjo.

O Thiaguinho por exemplo sola muito, mas tem um timming perfeito na hora do groove. Baixista tem que ter time, tem que carregar a banda, tem que pulsar, ter a “malandragem” de encaixar a nota, o silêncio.

Uma pausa no lugar certo vale mais do que mil notas!

E em último lugar acho que o baixista deve muito cedo entender qual a praia em que se dá melhor. Tocar de tudo é muito bom pra conhecer, ter experiência, mas acho que a sinceridade com seu som, seu estilo, suas limitações é parte da maturidade do músico.

Eu adoro jazz, mas não é minha praia tocar esse estilo. Então o que faço, escuto jazz, toco em jam com os amigos, faço um som, estudo, mas não trabalho com isso. Você nunca vai ver o Ney tocando no Mancini, porque tenho a humildade de reconhecer que eu seria um peixe fora d’água ali.

Mas ao mesmo tempo, eu sei aquilo que faço bem, e é nisso que foco minhas atividades profissionais. Depois, com as contas pagas, posso sair pra dar uma canja e tocar os cinco únicos standards que eu sei a harmonia de cor, entendeu? rsrsrsr

Mas antes de me dar esse luxo, durante o dia eu estudei, técnica, leitura, dei aula, escrevi método, gravei, produzi, fechei duas ou três gigs, workshops, falei com meus parceiros, ou seja: cuidei da minha empresa. Faço isso todos os dias.


RR: Se tivesse uma segunda chance de começar tudo do zero, o que mudaria?


Estudaria ainda mais, Ah! Teria uma vida mais saudável... hahahah

O estereótipo do baixista gordinho que come pra caramba é muito chato, queria fazer parte da linha dos músicos saudáveis... Acho que ainda dá tempo, vou fazer uma re-educação alimentar. É que às vezes penso que se eu emagrecer muito o baixo vai estranhar a nova aerodinâmica... rsrsr ... Brincadeira, mas tem uma mensagem séria aqui, queria ter uma vida menos corrida e mais saudável. 



RR: Sabemos que perdeu recentemente um grande amigo, o baixista Miqueas Santana. Como foi lidar com isso?


NN: Acho que nunca vou aprender a lidar com isso. Estive com o irmão do Mica agora há pouco, ele era nosso roadie. Não faltam lembranças e histórias alegres para contarmos. Mas ao mesmo tempo a dor e a saudade serão eternas. Ele se foi jovem demais, ainda tinha muita coisa pra fazer, era um cara muito musical. 



RR: Qual a sua mensagem para os baixistas e leitores do Blog Fala Baixo!?


NN: Quando você estiver tocando super bem, improvisando pra caramba, nunca caia na bobagem de se achar melhor que outro músico.

Sabe aquela coisa comum entre músicos: “pô, fulano não toca nada...” “beltrano é melhor que sicrano.” “o Genésio é mais rápido que o Jeremias...”

Então, pode ser que aquela carinha, que você acha que não toca tão bem quanto você, tenha viajado o mundo todo tocando, tenha mais de trezentas gravações, não se preocupe com as contas no fim do mês, tenha um super estúdio de gravação, seja sócio de uma escola de música, tenha tocado com grandes músicos, seja bem sucedido, e não esteja nem aí com sua opinião de “dono da razão e grande instrumentista”.

As aparências enganam muito.

Acho que a pior estupidez que um músico pode cometer é ficar se achando injustiçado porque PENSA que toca mais que outro cara e não tem as mesmas oportunidades, convites, endorsers. Acho que está na hora de parar de bobagem, abrir os olhos e perceber que a música vai além do play, está em como você se relaciona com a indústria, como se apresenta, quanto tempo investe em sua imagem, sua carreira.

Espero que centenas de baixistas iniciantes que estejam lendo essa matéria se tornem músicos profissionais, e mais que isso, que se tornem seres humanos do bem, sem rixa, picuinhas e inveja. Na música não tem lugar pra essas coisas. Não quero que sejam somente grandes improvisadores, mas que sejam grandes homens, pais de família, amigos, isso é ser músico! E ser músico é coisa séria, dá orgulho aos pais, não o contrário!

Bom meus amigos, mais uma entrevista que se transformou numa aula de profissionalismo, humanidade e personalidade! 


Muito Obrigado Ney Neto, que você continue sendo um espelho para nós baixistas que ainda temos muito a construir no "Mundo dos Graves"! Deus abençoe e proteja a você e toda sua famíla!

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